Às vezes a vida nos impõe situações que mais parecem encruzilhadas.
Quando dois caminhos nos atraem, temos dificuldade para escolher: as belezas de um lado nos seduzem, mas hesitamos em renunciar aos encantos do outro.
E então ficamos a namorar dois destinos simultaneamente, na ilusão de que a alguém seja possível, a um só tempo, usufruir das belezas de uma estrada e deliciar-se ao encantos de outra.
E, não raro, nos surpreendemos assim, paralisados, incapazes de um gesto definitivo, buscando inutilmente desfrutar de dois amores, como fôssemos deuses de onipresença.
Cedo ou tarde, no entanto, a vida mesma nos revela que cortejar o sol e a lua é, no fim das contas, privar-se de ambos. E percebemos então que, onde quer que julguemos estar, não estamos afinal em lugar algum: nem é nosso o mistério do mar, nem a brisa das montanhas. Nem a melancolia da chuva, nem a alegria do sol. Nem os olhos de Joana, nem os lábios de Maria.
E, às vezes, custa-nos tanto renunciar a um encanto que, quando enfim nos conformamos, nada mais está à nossa espera: nem o mar, nem as montanhas; nem a noite, nem o dia; nem a lua, nem o sol; nem Joana, nem Maria.